Estando no papel de sogra e mãe, gosto de observar as condutas que acontecem ao meu redor com e objetivo de enriquecer as minhas vivências nos papéis que exerço. Minha busca é por aprimorar minhas atitudes quando observo comportamentos admiráveis, visando não repetir atitudes insensatas que observo no meu cotidiano.
Outro dia, ao conversar com uma mãe fiquei pensativa quanto a sua atitude de mãe, que na interminável busca de demonstrar amor aos filhos, os ampara em suas fragilidades, sejam elas quais forem: financeiras, afetivas, profissionais, entreoutras. Ao conversar com essa mulher e mãe, notei a sua tentativa de acertar ao ajudar o seu filho, este já adulto, casado, responsável e passando por um lamentável momento de desemprego apesar das inúmeras tentativas de se inserir no mercado de trabalho.
A mãe, ao ver o seu filho, casado, com duas crianças pequenas, triste e incapaz diante da dispensa vazia, da falta de dinheiro para suprir as necessidades básicas das crianças, escassez de mantimentos, teve a conduta de, juntamente com a sogra de seu filho, ir ao supermercado e fazer uma significativa compra. Era possível ver de tudo: itens de limpeza, carnes, frutas, legumes e tudo mais para suprir as necessidades mensais daquela típica fámilia brasileira.
Fiquei a pensar em que medida tal atitude foi positiva. Ajudar alguém em momentos de crise é o dever de cada um de nós, especialmente de um filho, é mais que um dever, é um prazer! Bem... de forma empática, tentei imaginar como o jovem e a sua esposa poderiam receber a ajuda, e como se sentiram dentro dessa situação. Ao observar os dois guardando as compras, vi uma dualidade de sentimentos: o de alegria por ter alguém para ajudá-los, e o de tristeza e impotência por não terem autonomia sequer para ir ao supermercado e efetuar suas próprias compras. Nesse instante pensei que ao invés de ajudar diretamente com a entrega das compras, a mãe e a sogra poderiam entregar uma determinada quantia em dinheiro para que eles mesmos efetuassem as compras, amenizando assim a sensação de impotência.
Não cabe a mim questionar a intenção do coração das pessoas que estão dispostas a ajudar, pensei na verdade em pequenos detalhe embutidos naquela cena. Detalhes tão pequenos e simples que abarcam uma boa ação, tornando-a ainda mais rica e completa. Pensei que preservar o direito do próprio casal para fazer suas compras poderia amenizar o sentimento de impotência diante dessa situação específica, poderia ser sensível.
Os pequenos detalhes fazem grandes diferenças nas nossas relações. É importante ajudar e sempre que possível buscar aprimorar as nossas capacidades de sentir o que o outro sente, ainda que seja em uma situação de auxílio ao outro. Ajudar nos faz sentir pessoas melhores e como em todas atitudes existe uma capacidade de melhora, assim também existe "no ajudar". Longe do clichê que "cavalo dado não se olha os dentes", devemos doar o melhor que há em nós, a melhor parte, com sensibilidade e com apego as miudezas que fazem brotar no outro o sentimento de que é capaz.